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A coisa tá preta

“Você é bem exótica”.

“Não me leve a mal, mas não costumo ficar com meninas do seu tipo”.

“Eu tenho orgulho de ser branca”.

“Vai cortar esse cabelo! ”.

“Eu não sou racista, até tenho amigos negros”.

“Nossa! Suas tranças não fedem”.

“Seu cabelo até que é macio”.

“Sou louca para ver como é seu cabelo liso”.

Estes são os tipos de frases que negros e negras escutam todos os dias. O racismo velado que, de morto, não tem nada. Um crime perfeito, que só a vítima vê e sente. E como sente. Assim, organizar um Coletivo para que negros e negras se sintam acolhidos para desabafar sobre o tipo de tratamento que recebem e também para conscientizar os universitários e a população de Frutal sobre tais pautas, foi um dos motivos para que o Coletivo Ágora Negra saísse do papel e fosse colocado em prática.

“A concepção do projeto vem da época em que a UEMG esteve de greve. Percebemos o quanto a instituição é elitizada e branca e o quanto a sociedade frutalense também é. E então pensamos: por que não montar um grupo para nos sentirmos acolhidos? ”, relata Maria Fernanda, atual integrante do Coletivo.

Ágora eram os locais, na antiga Grécia, onde ocorriam as discussões políticas e os tribunais populares, sendo o princípio de um espaço para que a cidadania fosse exercida. Por este motivo, a Ágora era estimada como um símbolo de democracia, em especial, da democracia ateniense, onde todos os cidadãos tinham voz e direito ao voto igualitário.

Os temas debatidos pelas integrantes são:

👉 a falta de representatividade em contos de fadas; em tonalidades de maquiagens oferecidas no mercado; nas cores de bonecas oferecidas as crianças; na presença de altos cargos empresariais e até mesmo no espaço universitário, seja como professor ou aluno.

👉 o colorismo, que é o nível de intolerância dependendo da pigmentação da pele do negro. Ou seja, quando uma pele negra é mais pigmentada, o racismo é muito mais denso do que quando atinge pessoas com pigmentações negras brandas.

👉 racismo estrutural; que constitui as relações em um padrão de normalidade dentro da cultura, economia e política. Em outras palavras, são atitudes rotineiras que permeiam em nossas crenças, costumes e linguagens.

👉 violência policial; presente cotidianamente em rondas policias, no qual o negro é sempre visto como uma ameaça maior a sociedade, do que um branco de mesma posição social.

👉 racismo reverso; discurso pronunciado por brancos na intenção de demonstrar que até eles sofrem preconceito pelos negros, enquanto os negros não possuem poder social para exercerem o racismo pois, este é um sistema de opressão em que há uma hierarquia de poder que acarreta em consequências segregacionistas.

👉 feminismo negro; movimento social constituído de uma minoria dentro de outra minoria que luta pelos direitos pessoais redobrados, isto porque são mulheres e negras.

👉 apropriação cultural; ação que se concretiza quando elementos de uma cultura, assim como roupas, acessórios e símbolos religiosos, são usados por indivíduos de uma cultura diferente.

Projetos de uma biblioteca física com acervo de livros africanos estão nos planos do Coletivo. Assim como um Simpósio dentro da universidade que aborde as questões do negro e visitas nas escolas de Frutal para debater as demandas do negro na sociedade.

Para Nádia e Maria Fernanda, as suas grandes referências negras pela trajetória exercida até hoje, são: Beyonce, Octavia Spencer, Viola Davis e Sueli Carneiro.

Beyoncé lançou seu mais recente CD “Lemonade”, em 2016, que dentre os muitos assuntos abordados, relata sua indignação sobre a situação de descaso sob a qual negros sempre tiveram nos Estados Unidos.

Octavia Spencer e Viola Davis são atrizes com destaque cada vez maior no mundo todo, pois muito dos seus papéis no cinema e nas telinhas representam as injustiças vividas pelos negros, a exemplo do filme “Histórias Cruzadas”, que rendeu a Octavia o Oscar de melhor atriz coadjuvante, em 2012.

Sueli Carneiro é doutora em filosofia, fundadora e atual diretora da ONG: Gelédes – Instituto da Mulher Negra, organização política brasileira de mulheres negras contra o racismo e sexismo. Em sua estante particular, coleciona vários prêmios por suas iniciativas.

O Coletivo continua na luta para que haja mais diálogos sobre os medos, anseios e dificuldades vividas por meio do racismo no âmbito acadêmico e na sociedade. E deixa um convite a todos os interessados a participarem das reuniões ou integrar o grupo para que, cada vez mais, a voz do indivíduo negro seja ouvida até que as condutas opressoras se calem.

LIDE

com qualquer situação.

Seja quem quiser.

LIDE

Jornalismo Universitário

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